Inteligência de Mãe


A gente já desconfiava, mas a ciência começa a comprovar: a maternidade torna as mulheres mais espertas, mais eficientes, menos estressadas e profundamente habilidosas para interpretar os sentimentos alheios


A maternidade muda tudo. Muda a perspectiva de encarar o mundo, o casamento, o orçamento, o corpo da mulher. Muda o círculo de amigos, a for ma de trabalhar, o conceito de diversão, o uso do tempo. Mas há mudanças muito mais profundas: vários estudos recentes mostram que a maternidade também reorganiza o cérebro. Para melhor. “Por uma combinação dinâmica de amor, genes, hormônios e prática, o cérebro feminino sofre mudanças concretas e provavelmente duradouras no processo de dar à luz e criar os filhos”, escreve a americana Katherine Ellison no livroINTELIGÊNCIA DE MÃE (ED. PLANETA). Essa jornalista dedicou-se a estudar o assunto após os desafios que encontrou – e superou – ao se tornar mãe de Joey, hoje com 13 anos, e Joshua, 10. Entrevistou centenas de pessoas, entre cientistas e mães, e sentiu-se segura para garantir: “A maioria das mulheres tem potencial para se tornar mais esperta com a maternidade”. Do ponto de vista puramente prático de quem tem filhos, é fácil acreditar nisso: afinal, só um rearranjo cerebral explicaria como conseguimos dar conta de lembrar os horários da natação e de dar remédio, de pagar a perua escolar em dia, comprar presente para a festa do amigo e ainda saber onde foi parar o carrinho laranja favorito (embaixo do sofá). “Ser mãe me ensinou a gerenciar melhor o meu tempo”, afirma a neurocientista da UFRJ Suzana Herculano-Houzel, autora do livro FIQUE DE BEM COM SEU CÉREBRO (ED. SEXTANTE). “Afinal, a única maneira de lidar com todas as tarefas por fazer e ainda cuidar de duas crianças é aprender a priorizar, passando para a frente o que tem que ser feito hoje e eventualmente ignorando, sem remorsos, o que não era tão importante. Meu cérebro aprendeu a lidar melhor com isso.”
A ciência começa a demonstrar o que até então apenas intuíamos. No final dos anos 1990, Craig Kinsley e Katherine Lambert, neurocientistas da Universidade de Richmond, no estado americano da Virgínia, compararam o desempenho de ratas mães com o de ratas grávidas e sem filhos. A missão era desbravar um labirinto para encontrar alimento. Descobriram que o primeiro grupo tem melhor memória e aprende mais depressa: elas chegaram primeiro à comida em 60% das situações, ante 33% das grávidas e 7% das ratas sem filhotes. Por trás do bom resultado das ratas mães, está, acreditam os pesquisadores, um hormônio: o estrógeno. A enxurrada hormonal da gravidez também afeta o cérebro, e há evidências de que o estrógeno estimularia a potência desse órgão. “Do ponto de vista neurológico, o cérebro passa por uma revolução quando a mulher tem um filho”, afirma Michael Merzenich, cientista da Universidade da Califórnia, em São Francisco. “É uma época de aprendizagem e de grandes mudanças induzidas. Acho que não há muitas coisas mais significativas que você possa fazer para o seu cérebro além de ter um filho.” E tem mais: acumulam-se os indícios científicos de que essas melhorias” não se perdem com o tempo – pelo contrário, aguçam-se à medida que criar filhos vai exigindo da mãe habilidades diferentes a cada fase.
Não que ocorra um aumento de QI, o quociente de inteligência. Quem recebe um upgrade com a maternidade é sobretudo a inteligência emocional, conceito disseminado nos anos 1990 para definir a habilidade de lidar positivamente com as emoções. Sabe-se hoje que o cérebro é uma estrutura plástica, ou seja, vai se modificando ao longo da vida à medida que é mais ou menos exigido. E a maternidade é um exercício diário, profundamente repetitivo, de algumas características que compõem o conceito de inteligência emocional, entre as quais empatia, sociabilidade e motivação. Sem falar na eficiência. Leia e reconheça-se.
Fonte: Abril.com

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