Para nós, que vivemos em contexto de “não-perseguição”, não é muito fácil interceder de forma correta pelos cristãos perseguidos. A realidade parece ser tão distante da nossa e nem mesmo sabemos qual é exatamente o pedido de oração deles.
Antes, eu orava com extrema compaixão, com pena mesmo, e pedindo a Deus que os livrasse de tanto sofrimento e perseguição. Hoje, depois de conhecer alguns cristãos perseguidos, mudei meu jeito de interceder. Compartilho aqui alguns pontos que tenho aprendido:
1. Devemos interceder pelos cristãos perseguidos não como se eles fossem “coitadinhos”, mas como pessoas dignas, que se sentem honradas por participar dos sofrimentos de Cristo. Há muitas passagens bíblicas que mostram isso. Vejamos o trecho da Primeira Carta de Pedro, escrita em contexto de intensa perseguição ao evangelho (1 Pedro 4.12-16)1:
Amados, não se surpreendam com o fogo que surge entre vocês para os provar, como se algo estranho lhes estivesse acontecendo. Mas alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo, para que também, quando a sua glória for revelada, vocês exultem com grande alegria. Se vocês são insultados por causa do nome de Cristo, felizes são vocês, pois o Espírito da glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vocês. Se algum de vocês sofre, que não seja como assassino, ladrão, criminoso, ou como quem se intromete em negócios alheios. Contudo, se sofre como cristão, não se envergonhe, mas glorifique a Deus por meio desse nome.
2. Devemos pedir por intrepidez, coragem, sinais e poder – não necessariamente por livramento, segurança e tranquilidade. A passagem escolhida para ilustrar isso é a oração feita pela igreja primitiva, logo que Pedro e João saíram da cadeia (Atos 4.29-31):
Agora, Senhor, considera as ameaças deles e capacita os teus servos para anunciarem a tua palavra corajosamente. Estende a tua mão para curar e realizar sinais e maravilhas por meio do nome do teu santo servo Jesus. Depois de orarem, tremeu o lugar em que estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam corajosamente a palavra de Deus.
Que Pedro e João transformados! Não mais pediram que caísse fogo do céu sobre os seus perseguidores... Nem mesmo pediram o cessar-fogo, mas que fossem fiéis e ousados debaixo do fogo cruzado da perseguição ao nome de Jesus.
3. Devemos interceder crendo na soberania de Deus, que usa o sofrimento e a perseguição para os seus desígnios de alcançar mais pessoas com a sua maravilhosa graça. Paulo compartilha com Timóteo que, apesar de estar preso, a palavra de Deus não está algemada (2 Timóteo 2.8-10):
Lembre-se de Jesus Cristo, ressuscitado dos mortos, descendente de Davi, conforme o meu evangelho, pelo qual sofro e até estou preso como criminoso; contudo a palavra de Deus não está presa. Por isso, tudo suporto por causa dos eleitos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus, com glória eterna.
A sabedoria humana não consegue entender os propósitos de Deus. Mas, como disse Tertuliano, “o sangue dos mártires é a semente da igreja”. Ramez Atallah, diretor da Sociedade Bíblica do Egito2, escreveu que há uma grande chance de que o governo egípcio se torne ainda mais radical. Mas, como um cristão egípcio, ele não se preocupa muito com isso, e até acredita que os cristãos darão um testemunho muito mais eficaz, caso a perseguição aumente. Ele tem certeza de que a fé será ainda mais depurada e haverá mais conversões, apesar (ou por causa?) do sofrimento mais intenso.
4. Devemos interceder de forma inclusiva.
É interessante que na área de perseguição, os cristãos estão todos no “mesmo balaio”: ortodoxos, católicos e protestantes. Eles são igualmente perseguidos em locais em que radicais de outra religião são a maioria e a presença cristã os incomoda de variadas formas. Por isso, devemos incluir todos eles em nossa intercessão.
O relatório de 2010 sobre ações anticristãs, produzido pela Associação Evangélica da Índia, descreve de forma cronológica as ações contra protestantes (de diferentes matizes) e católicos no país. (Trata-se de um impressionante relatório de 27 páginas, contendo dados de ações de violência e intimidação aos cristãos em 18 estados3)
A Agência Fides4 revelou que em 2010 foram assassinados 23 agentes pastorais católicos no mundo. O dado surpreendente é que o continente americano foi o campeão, com a morte de 15 destes agentes: 10 sacerdotes, 1 religioso, 1 seminarista e 3 leigos.
5. Devemos transformar a intercessão em ações práticas.A maior necessidade dos cristãos perseguidos é de encorajamento – por meio de orações, sim, mas também por meio de ações simples, como:
- Escrever cartas de encorajamento;
- Assinar listas e abaixo-assinados, destinados a autoridades responsáveis pela integridade física dos cristãos e cidadãos de um modo geral (há outros grupos religiosos no mundo, não-cristãos, perseguidos por radicais de religiões majoritárias);
- Prestar advocacia mais ampla, na defesa dos direitos humanos também na área religiosa;
- Contribuir financeiramente com a igreja sofredora;
- Ir viver no meio deles, para encorajá-los e servir à igreja nacional.
Há várias organizações que podem ser procuradas para nos ajudar a ajudar5. Que Deus nos ensine a orar e a agir como convém em favor dos nossos irmãos da igreja sofredora.
Notas
(1) As citações bíblicas foram retiradas da Nova Versão Internacional (NVI)
(2) www.bsoe.org
(3) HOWELL, Richard (Secretário Geral da Evangelical Fellowship of India): "Religion, politics and violence: a report of the hostility and intimidation faced by Christians in India in 2010." New Delhi, India, 2010.
(4) Em Notícias CNBB - nº18 (2113) - 08 a 14/05/2011.
(5) No Brasil, a organização mais conhecida e que faz um trabalho muito importante é a Missão Portas Abertas (www.portasabertas.org.br). A Associação de Missões Transculturais Brasileiras pode indicar outras organizações (www.amtb.org.br).
Fonte: Ultimato
Antes, eu orava com extrema compaixão, com pena mesmo, e pedindo a Deus que os livrasse de tanto sofrimento e perseguição. Hoje, depois de conhecer alguns cristãos perseguidos, mudei meu jeito de interceder. Compartilho aqui alguns pontos que tenho aprendido:
1. Devemos interceder pelos cristãos perseguidos não como se eles fossem “coitadinhos”, mas como pessoas dignas, que se sentem honradas por participar dos sofrimentos de Cristo. Há muitas passagens bíblicas que mostram isso. Vejamos o trecho da Primeira Carta de Pedro, escrita em contexto de intensa perseguição ao evangelho (1 Pedro 4.12-16)1:
Amados, não se surpreendam com o fogo que surge entre vocês para os provar, como se algo estranho lhes estivesse acontecendo. Mas alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo, para que também, quando a sua glória for revelada, vocês exultem com grande alegria. Se vocês são insultados por causa do nome de Cristo, felizes são vocês, pois o Espírito da glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vocês. Se algum de vocês sofre, que não seja como assassino, ladrão, criminoso, ou como quem se intromete em negócios alheios. Contudo, se sofre como cristão, não se envergonhe, mas glorifique a Deus por meio desse nome.
2. Devemos pedir por intrepidez, coragem, sinais e poder – não necessariamente por livramento, segurança e tranquilidade. A passagem escolhida para ilustrar isso é a oração feita pela igreja primitiva, logo que Pedro e João saíram da cadeia (Atos 4.29-31):
Agora, Senhor, considera as ameaças deles e capacita os teus servos para anunciarem a tua palavra corajosamente. Estende a tua mão para curar e realizar sinais e maravilhas por meio do nome do teu santo servo Jesus. Depois de orarem, tremeu o lugar em que estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam corajosamente a palavra de Deus.
Que Pedro e João transformados! Não mais pediram que caísse fogo do céu sobre os seus perseguidores... Nem mesmo pediram o cessar-fogo, mas que fossem fiéis e ousados debaixo do fogo cruzado da perseguição ao nome de Jesus.
3. Devemos interceder crendo na soberania de Deus, que usa o sofrimento e a perseguição para os seus desígnios de alcançar mais pessoas com a sua maravilhosa graça. Paulo compartilha com Timóteo que, apesar de estar preso, a palavra de Deus não está algemada (2 Timóteo 2.8-10):
Lembre-se de Jesus Cristo, ressuscitado dos mortos, descendente de Davi, conforme o meu evangelho, pelo qual sofro e até estou preso como criminoso; contudo a palavra de Deus não está presa. Por isso, tudo suporto por causa dos eleitos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus, com glória eterna.
A sabedoria humana não consegue entender os propósitos de Deus. Mas, como disse Tertuliano, “o sangue dos mártires é a semente da igreja”. Ramez Atallah, diretor da Sociedade Bíblica do Egito2, escreveu que há uma grande chance de que o governo egípcio se torne ainda mais radical. Mas, como um cristão egípcio, ele não se preocupa muito com isso, e até acredita que os cristãos darão um testemunho muito mais eficaz, caso a perseguição aumente. Ele tem certeza de que a fé será ainda mais depurada e haverá mais conversões, apesar (ou por causa?) do sofrimento mais intenso.
4. Devemos interceder de forma inclusiva.
É interessante que na área de perseguição, os cristãos estão todos no “mesmo balaio”: ortodoxos, católicos e protestantes. Eles são igualmente perseguidos em locais em que radicais de outra religião são a maioria e a presença cristã os incomoda de variadas formas. Por isso, devemos incluir todos eles em nossa intercessão.
O relatório de 2010 sobre ações anticristãs, produzido pela Associação Evangélica da Índia, descreve de forma cronológica as ações contra protestantes (de diferentes matizes) e católicos no país. (Trata-se de um impressionante relatório de 27 páginas, contendo dados de ações de violência e intimidação aos cristãos em 18 estados3)
A Agência Fides4 revelou que em 2010 foram assassinados 23 agentes pastorais católicos no mundo. O dado surpreendente é que o continente americano foi o campeão, com a morte de 15 destes agentes: 10 sacerdotes, 1 religioso, 1 seminarista e 3 leigos.
5. Devemos transformar a intercessão em ações práticas.A maior necessidade dos cristãos perseguidos é de encorajamento – por meio de orações, sim, mas também por meio de ações simples, como:
- Escrever cartas de encorajamento;
- Assinar listas e abaixo-assinados, destinados a autoridades responsáveis pela integridade física dos cristãos e cidadãos de um modo geral (há outros grupos religiosos no mundo, não-cristãos, perseguidos por radicais de religiões majoritárias);
- Prestar advocacia mais ampla, na defesa dos direitos humanos também na área religiosa;
- Contribuir financeiramente com a igreja sofredora;
- Ir viver no meio deles, para encorajá-los e servir à igreja nacional.
Há várias organizações que podem ser procuradas para nos ajudar a ajudar5. Que Deus nos ensine a orar e a agir como convém em favor dos nossos irmãos da igreja sofredora.
Notas
(1) As citações bíblicas foram retiradas da Nova Versão Internacional (NVI)
(2) www.bsoe.org
(3) HOWELL, Richard (Secretário Geral da Evangelical Fellowship of India): "Religion, politics and violence: a report of the hostility and intimidation faced by Christians in India in 2010." New Delhi, India, 2010.
(4) Em Notícias CNBB - nº18 (2113) - 08 a 14/05/2011.
(5) No Brasil, a organização mais conhecida e que faz um trabalho muito importante é a Missão Portas Abertas (www.portasabertas.org.br). A Associação de Missões Transculturais Brasileiras pode indicar outras organizações (www.amtb.org.br).
Fonte: Ultimato
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