Pontes ou Paredes? - Robert Schuller


Há duas espécies de pessoas no mundo. Há os que constroem paredes e há os que constroem pontes. Robert Frost disse:

“Antes de construir paredes é preciso verificar bem o que é que se está encerrando dentro dessas paredes, ou deixando fora delas.”

Esse é um bom aviso para os construtores de paredes, porque, em sua defensiva e hostilidade, costumam afugentar de si os outros.

Os construtores de pontes são os que esperam o melhor das pessoas. Esperam dos outros sempre o bem, e estão prontos a acreditar no melhor, mesmo nas piores situações. Cons­troem pontes porque aprenderam a linguagem do amor.

O que você constrói – pontes ou paredes? Você está alimentando ressentimentos? Quantos temores, ansiedades, preocupações, você está sofrendo só porque não se dispõe a perdoar alguém que o feriu profundamente? Quantos dias ensolarados se tornam cinzentos, porque sua mente enraivecida agita-se e luta, em choques imaginários com o adversário – seu ex-marido, sua ex-esposa, um parente, um freguês, um cliente ou um funcionário?

Você está sofrendo de úlceras, artrite, pressão alta ou problemas cardíacos, simplesmente porque não se dispõe a perdoar? Quantas pessoas estão criando rugas – que se tornarão marcas permanentes – evidências do fato de que passaram a maior parte de sua vida com pensamentos de ira, até que as rugas lhes marcaram indelevelmente o semblante? E quantos amigos já deixaram de falar-lhe por você ter angariado a reputação de enjoado, resmungão e choramingas, pois o ressentimento diário que penetrou em você ali se fixou e o contaminou por inteiro?

A solução é aprender a linguagem do amor, linguagem que começa com estas palavras de 1 Coríntios 13, o grande capítulo do amor: “O amor não se ressente do mal” (v. 5). No nordeste dos Estados Unidos, quando grandes, macios e fofos flocos de neve começam a cair, é o inverno que está chegando. Nascido e criado na região noroeste de Iowa, lembro-me bem da primeira neve do ano. Era um espetáculo maravilhoso! Mas o de que não gostávamos era das nevascas, porque as nevascas vinham com ventos impetuosos de 80 a 100 quilômetros por hora, chegando, algumas vezes, a fechar as estradas com intransponíveis montões de neve. Chegava mesmo a ser impossível ir a um armazém para comprar alimentos. A situação ficava muito séria. Uma vantagem para mim era que eu não teria de ir à escola. Ainda me lembro de como ficava olhando, da nossa fazenda, um quilômetro estrada abaixo, vendo o removedor de neve cortando os montões de neve, picando, repicando e atirando na vala um enorme jorro de neve. Depois que a máquina terminava o serviço, a estrada estava de novo aberta, e podíamos sair em busca de alimento. E eu podia voltar à escola.

Os ressentimentos são como montões de neve, e o perdão é o removedor. Aos olhos do incrédulo, o perdão é apenas uma questão de acerto passivo. Mas, no contexto cristão, não é assim de maneira alguma. No contexto cristão, o perdão é o removedor de neve. Implica reabrir a estrada e remover as barreiras, de modo que possamos novamente comunicar-nos e ouvir o que as pessoas estão tentando dizer. Dialogamos e trocamos ideias; podemos nos mover de um lado para outro. Seja entre mim e Deus ou entre mim e outra pessoa, o perdão é o removedor da neve, e não apenas um apagador de quadro-negro.

Em apenas um dia, pode brotar em nossa vida um montão de ressentimentos. E a única maneira de fazer a alegria voltar ao nosso rosto é buscar um amor irresistível, que possa remover os ressentimentos e encher-nos de perdão. “Eu lhe perdoo”, é uma linguagem do amor.

Mas, para que possamos vencer os ressentimentos, para que possamos nos submeter ao espírito de perdão, procuremos compreender alguns dos obstáculos existentes:


Obstáculo n.° 1: Um extremado senso de justiça
Eu mesmo tenho tido problemas nesse ponto. Possuo um forte senso de justiça. Preciso estar sempre lembrando a mim mesmo o que diz a Palavra de Deus: “A mim me pertence a vingança”, diz o Senhor (Dt 32.35).

A história de José tem sido uma bênção para mim. Ele foi vendido pelos irmãos, como escravo, para o Egito. Pretendiam desfazer-se dele e afastá-lo de suas vidas; no entanto, ele se tornou governador. Pretendiam matá-lo; e, em vez disso, pela providência de Deus, o que conseguiram foi coroá-lo. Como o próprio José disse: “Vós tivestes em vista o mal, Deus, porém, teve em vista o bem”. Deixemos que a justiça seja administrada pelo Senhor. Ele sabe cuidar das pessoas.

Houve um homem que, vítima de injustiça, disse ao pastor:
– Mas ficar zangado não é para mim uma atitude de homem? –
De fato. Mas perdoar é uma atitude de Cristo, respondeu o pastor.

Obstáculo n.° 2: Transformar um montículo de terra numa montanha
Nós temos a tendência de enfatizar as pequenas coisas negativas que nos incomodam, e de esquecer todas as qualidades positivas. A pessoa que nos feriu, seja ela quem for, possui muitas qualidades apreciáveis, mas, dadas as circunstâncias, não conseguimos vê-las.
Certa vez, para ilustrar esse fato, numa aula em que eu estava falando acerca do pensamento da possibilidade, prendi uma folha de papel no quadro. Com uma caneta-pincel, tracei um pequeno X bem no centro da folha. Depois, fiz um círculo pequenino com um tracinho dentro. Pedi aos alunos da classe que chegassem ali e me dissessem o que estavam vendo. Uma pessoa disse que via uma linha; uma outra, um círculo; outros disseram um X. Todos opinaram e, quando não faltava mais ninguém para responder, eu disse:

“Nenhum de vocês disse: ‘Vejo uma folha de papel’.”
A folha de papel branco era muito maior do que o que eu rabiscara nela; mas todos viram apenas as pequenas marcas pretas. Ninguém viu a enorme extensão branca.
Por natureza, temos a tendência de pensar negativamente. Vemos o erro e não vemos o bem. Detemo-nos num pequeno detalhe e nos apegamos a ele. Isso se transforma num obstáculo.

É como um artista que estava ensinando seus discípulos a pintar. Levou-os para fora para que pintassem o pôr-do-sol. Todos armaram seus cavaletes e começaram a pintar. Justamente quando o sol estava atingindo o ponto máximo do seu glorioso colorido, o instrutor notou que um estudante estava todo absorto desenhando umas tabuinhas que cobriam um celeiro no primeiro plano daquela cena pastoral. Disse-lhe o professor:
“Olhe, se você ficar muito tempo desenhando as tabuinhas, vai acabar perdendo o pôr-do-sol.”

Não se deixe prender demais aos detalhes da vida, a ponto de perder os maiores e mais belos quadros.


Extraído do livro Descubra o Amor, que faz parte da Série Descoberta, escrita por Robert Schuller e publicada pela Editora Betânia.
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