Família de dependente químico também deve fazer tratamento

É preciso buscar o equilíbrio com a ajuda da medicina, da terapia e da união da própria família. Especialistas apontam maneiras de evitar que isso aconteça e uma delas é a conversa.





O que todas as pessoas que conhecem ou têm um dependente químico na família querem saber é: dá para evitar que as histórias terminem como a de Amy Winehouse? O que muita gente não sabe é que, em muitos casos, não é só o dependente que precisa de tratamento. A família também.

No telhado, um rapaz está fora de controle. Ele subiu em um prédio de Aracaju depois de ter tocado fogo na casa em que mora com a família. Ele parece sentir que o mundo vai cair na cabeça dele. Os bombeiros tentam se aproximar, mas é ele quem vai até o socorro. Vai pendurado, com a força de quem decide não morrer. E na ambulância, a mãe do rapaz só precisa de quatro palavras para explicar o que acabou de acontecer: “É usuário de droga”.

Dependentes químicos podem pedir ajuda por telefone 0800
Amy Winehouse também usou drogas, mas ainda não se sabe o que causou a morte da cantora. O talento de Amy transformou esse drama na música “Rehab”, conhecida mundialmente, essa é a descrição de uma rotina de milhões de dependentes químicos que não têm a mesma fama que ela, mas têm o mesmo problema e que buscam ajuda em lugares como uma clínica em Maricá, 70 quilômetros ao norte do Rio de Janeiro.



Pais e mães de dependentes químicos sofrem e chegam a creditar que esse drama não tem saída, ainda mais quando o filho recusa o tratamento. Mas o dependente pode ser tratado. E a família também. “Não adiantava deixar ele aqui e não cuidar da gente, porque ele está aqui se tratando, mas a gente também”, explicou Vitória Nemer, mãe de dependente.


Vitória e o marido Lindomar têm um filho de 16 anos. Ele e outros pais mostram a cara para dizer que o primeiro passo da terapia é acabar com o preconceito. “Eu acho que era safadeza dele. E hoje não. É uma doença. Ele está doente”, disse Lindomar Lima.


“Eu também pensava do mesmo jeito. A gente associa muito dependente químico a marginal”, explicou Fátima Rodrigues, mãe do Danilo. “Assim como a dependência química, a família também nega essa doença, custa a entender esse comportamento como doença”, explicou Mara Victorino, mãe do Pedro.


Se a família não faz nada, o problema aumenta. A família também está doente. “Eu não tinha condição de trabalhar, de levantar e sair da minha casa para trabalhar”, disse Fernando Victorino, pai do Pedro.


Mas a família não pode virar escrava da dependência. “Ela gera conflito, angustia e ansiedade na família inteira, às vezes, mudança de rotina da família por conta da questão da dependência”, ressalta Rosângela Elias, coordenadora de Saúde Mental do CAPS/SP.


“A gente tem que mudar tudo. Não é a gente esquecer de viver a nossa vida para viver em função dele”, contou Vitória.


Entre um extremo e outro, é preciso buscar o equilíbrio com a ajuda da medicina, da terapia e da união da própria família. É o caso do economista Marco Antônio Guedes, que é dependente químico: “Meus filhos tomaram a decisão de me trazer. Não foi uma imposição, mas quase que uma imposição: 'Pai, vamos'”.


“Contenção médica não é castigo, não é maldade. É algo feito para salvar uma vida”, afirma o psiquiatra Jorge Jaber.


Nessas horas, a família tem que funcionar como família. “Tem família que larga e deixa de mão o dependente, porque chega a uma altura que ela não tem mais estrutura para agüentar aquilo”, declarou Maria Silva, mãe de dependente.


“A gente está aprendendo que, quando ele voltar, vai ser tudo diferente. Aqui quem manda é o pai e a mãe, aqui você não grita, aqui você não dita regras. Aqui somos nós”, declarou Vitória.


O estudante Pedro Victorino fala em responsabilidade de cada um: “Dar a cada um a responsabilidade que é devida. Ou seja, mãe, você deixou de ser mãe em algum momento. Qual é o papel de mãe? Pai deixou de ser pai. Qual é o papel de pai aqui que ‘disfuncionou’”.


Só que nem sempre existe uma razão simples, de falta de autoridade ou de amor, para explicar por que a droga entrou na vida do filho. Amy Winehouse, por exemplo, teve uma infância normal.


“Eu não consigo, nas histórias dos meus pacientes, apontar que uma vez, como se fosse uma caixinha mágica, abre-se a tampa da caixinha. ‘Ah, foi isso que estava aqui que aconteceu, que causou aquela catástrofe depois’.”, explicou a psiquiatra Maria Thereza de Aquino, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).


Mas uma coisa é certa: existem maneiras de evitar que isso aconteça, e começa pela conversa.


O psiquiatra Jorge Jaber ensina: “Não há mais como se falar em educação de filhos sem abordar o tema das drogas. Enquanto a família mantém o diálogo, enquanto o diálogo se dá, tenham certeza: a família consegue passar a cultura da prevenção às doenças, incluindo as doenças derivadas do uso de drogas”.


A prevenção funciona melhor quando o filho tem certeza que os pais se interessam de verdade pela vida dele. “São fatores protetores esse interesse dos pais pelos amigos, pela vida do filho, o diálogo em família”, esclarece a psiquiatra Maria Thereza.


O convívio entre pais e filhos não pode parecer uma obrigação chata. “Quando essa presença é atraente, ela é um convívio gostoso, os próprios filhos procuram”, declarou a psiquiatra.


Se o filho já está consumindo droga, a família tem que procurar ajuda profissional e apoiar o dependente. “Internação é uma atividade médica. Só quem pode internar uma pessoa é um médico. Se a família chegar no hospital e disser ‘eu quero internar meu filho’, mas não for indicada a internação, o médico não internará”, afirmou Jorge Jaber.


E se o dependente está fora de si e toma atitudes violentas? “Toda situação de risco a gente tem que ter o cuidado que o risco impõe. Tem que chamar o Samu, tem que chamar os bombeiros”, alertou Rosângela Elias, coordenadora de Saúde Mental do CAPS/SP.


Depois o atendimento é oferecido pelo SUS, nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), em todo o Brasil. “O Caps é porta aberta, qualquer pessoa, qualquer cidadão pode procurar o Caps, ou o familiar. Se a pessoa não quiser o tratamento, o familiar também pode procurar o serviço e, a partir daí, vai se desencadear um processo onde o trabalho e a participação da família é fundamental”, apontou Rosângela Elias, coordenadora de Saúde Mental do CAPS/SP.
1 Response
  1. Pastor Sebastiao Cezar, gostei de mais do seu blog, é informativo, evangelistico, edifica nossa fé e louva a Deus
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    A sua postagem " Castidade entre jovens: modismo ou nova realidade? "
    além de oportuna é esclarecedora e revela a verdade de Deus: que o cristão deve permanecer puro e consagrado a Deus
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    Abraços pelo sangue de CRISTO