Quando ficamos perturbados


“Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim". (João 14.1)
 
Jesus nos disse para não ficarmos perturbados (João 14.1).
Ao fazê-lo, o Mestre reconhece que podemos ficar com os nossos corações turbados. Todos os seres humanos podemos ficar perturbados, no sentido de ter nossa calma derrubada por causa de situações de difícil controle.
 
PODEMOS FICAR PERTURBADOS
Todos nós podemos ter um espinho penetrando na nossa carne, como aconteceu com o apóstolo Paulo (2Coríntios 12.7). Eis alguns deles, entre muitos:
 
1. Podemos ficar perturbados quando vemos que nossos filhos encontram dificuldade nos estudos ou no trabalho ou nos relacionamentos ou no campo da fé. Perdemos o sono. Choramos. Aconselhamos. Pedimos ajuda. Fazemos tudo o que podemos para nossos filhos ficarem bem. Nem sempre a perturbação é substituída pela paz. Davi ficou perturbado com os comportamentos de alguns dos seus filhos, como Amnon, que forçou sua meia-irmã Tamar (2Samuel 13.1) e Absalão (que tentou derrubar o pai do governo).

2. Podemos ficar perturbados quando experimentamos dificuldades com nossos cônjuges, em uma ou mais áreas, dando-nos vontade de não voltar para casa ou mesmo desistir do casamento. O autor de Provérbios fala de um tipo de vida assim, quando se refere a esposas rixosas e raivosas. ("Melhor é morar numa terra deserta do que com a mulher rixosa e iracunda" -- Provérbios 21.19; "A goteira contínua num dia chuvoso e a mulher rixosa são semelhantes -- (Provérbios 27.15). O mesmo papel pode ser aplicado a maridos que vivem reclamando e perturbando a esposa.

3. Podemos ficar perturbados quando, na escola, no trabalho ou no condomínio, temos que conviver com pessoas que achamos que não gostam de nós e que temos certeza que fazem coisas para nos prejudicar. Quando esses desafetos são cristãos, nossa pressão sobe. Às vezes, tamanha é a perturbação, que nos dá vontade de abandonar a igreja ou mesmo a fé, como se não fôssemos perder coisas boas por causa de uma ou mais pessoas ruins. O autor da terceira carta de João tinha alguém que o perturbava: Diótrefes (1João 1.9).

4. Podemos ficar perturbados quando somos pressionados por ensinos antibíblicos ou pretensamente bíblicos, gerando dúvida ou confusão. Entre estes ensinos estão: a negação da singularidade de Jesus Cristo (porque nos dizem haver muita pretensão na afirmação de que só Jesus Cristo é o Salvador, algo ofensivo às outras religiões); a dúvida em relação à fidedignidade das Escrituras (porque nos garantem que, se Deus falou, não podemos ter certeza que a Bíblia registra com confiança essa Palavra de Deus, porque as traduções são manipuladas...); a insistência na relação entre bênção e prosperidade, segundo a qual a bênção é um direito do crente, que a pode exigir a Deus e quem não a recebe é porque tem alguma culpa ou porque não ora direito...); a insinuação que não há relação entre fé e vida, entre santidade e graça, podendo cada um viver como quiser... e a sugestão de que práticas como a homossexualidade são aceitáveis, à luz da natureza e da Bíblia... Essas afirmativas, de tão repetidas, pervertem ou confundem, resultando em perturbação.

5. Podemos ficar perturbados quando somos alcançados por uma doença (física ou emocional) que resiste em nos deixar, mesmo com muita oração e até jejum.

6. Podemos ficar perturbados quando vemos os estragos celebrados pelo exercício do nosso temperamento, pela percepção desequilibrada que temos de nós mesmos (seja na baixíssima autoestima, seja na elevada autoexaltação) ou pelo autoritarismo com que tratamos ou somos tratados ou pelos vícios que persistem em nos acompanhar nas nossas vidas.

7. Podemos ficar perturbados quando o desemprego chega à nossa casa e os recursos começam a escassear para o atendimento das necessidades pessoais ou da família.

8. Podemos ficar perturbados quando somos derrubados pela injustiça ou pela violência, embora (ou talvez por isto) tenhamos lido a promessa de que o anjo do Senhor se acampa em redor daqueles que amam a Deus (Salmo 34.7).

9. Podemos ficar perturbados quando perdemos, por acidente ou por doença, uma pessoa muita querida, o que faz com que se abra sob nossos pés o chão da vida.

10. Podemos ficar perturbados quando alguém menos capaz do que nós ou menos honesto do que nós ou menos crente do que nós é reconhecido pelo que não é e nós, esquecidos. O protesto do salmista reverbera pelos milênios: 
 
"Quanto a mim, os meus pés quase tropeçaram; por pouco não escorreguei.   
Pois tive inveja dos arrogantes quando vi a prosperidade desses ímpios.  
Eles não passam por sofrimento e têm o corpo saudável e forte.  
Estão livres dos fardos de todos; não são atingidos por doenças como os outros homens. (...)
Certamente foi-me inútil manter puro o coração e lavar as mãos na inocência,
pois o dia inteiro sou afligido, e todas as manhãs sou castigado".
(Salmo 73.2-5, 13-14)
 
11. Podemos ficar perturbados quando nossa amizade não é correspondida.
 
12. Podemos ficar perturbados quando alguém menos capaz do que nós ou menos honesto do que nós ou menos crente do que nós é reconhecido pelo que não é e nós, esquecidos. O protesto do salmista reverbera pelos milênios: 
 
"Quanto a mim, os meus pés quase tropeçaram; por pouco não escorreguei.   
Pois tive inveja dos arrogantes quando vi a prosperidade desses ímpios.  
Eles não passam por sofrimento e têm o corpo saudável e forte.  
Estão livres dos fardos de todos; não são atingidos por doenças como os outros homens. (...) Certamente foi-me inútil manter puro o coração e lavar as mãos na inocência, pois o dia inteiro sou afligido, e todas as manhãs sou castigado". (Salmo 73.2-5, 13-14)
 
11. Podemos ficar perturbados quando nossa amizade não é correspondida.
 
12. Podemos ficar perturbados quando a nossa oração não é respondida, o que nos faz tornar nosso o lamento de Jó: “Se tão-somente fosse atendido o meu pedido, se Deus me concedesse o meu desejo" (Jó 6.8).
 
11. Podemos ficar perturbados quando a nossa oração não é respondida, o que nos faz tornar nosso o lamento de Jó: “Se tão-somente fosse atendido o meu pedido, se Deus me concedesse o meu desejo" (Jó 6.8).
 
Estas perturbações podem nos levar a tomar decisões, às vezes erradas. 
 
O PAPEL DE NOSSA SENSIBILIDADE
O grau de perturbação depende de nossa sensibilidade. Como fazem parte da vida, precisamos aprender a arte da resistência. Penso muito no exemplo de Saul: perturbado por um grupo de rapazes, que zombavam dele em público, fez de conta que não ouviu. E o problema acabou (1Samuel 10.27).
Temos que nos perguntar, então, se não estamos sendo sensíveis demais. Se você está, decida mudar. Se precisar, tenha a coragem de buscar ajuda.
 
CUIDADOS QUE PRODUZEM VIDA
Todos os seres humanos podemos ficar perturbados, no sentido de ter nossa calma derrubada por causa de situações de difícil controle
Podemos nos perturbar e isto depende tanto do mundo em que vivemos, bem como do modo como reagimos aos fatos, em função de nossa sensibilidade maior ou menor.
 
1. Não tome decisão quando estiver perturbado. Você pode fazer o que não deve.
Chore, como Davi chorou por Absalão (2Samuel 18.33), mas não decida.
Não estou propondo a procrastinação como um método de vida, mas apenas nos momentos de perturbação, quando a razão falta. E decisão, embora tenha um componente emocional, deve passar também (e principalmente) por uma dimensão racional. A peneira da razão deve estar sempre em nossas mãos.
Se estiver perturbado, não faça negócios. Não compre. Não venda.
Se estiver perturbado, não termine ou comece relacionamentos.
Se estiver perturbado, não deixe sua igreja.
Se estiver perturbado, faça o que puder para que venha a serenidade. Então, decida.
 
2. Não pense fora da Bíblia, porque isto pode lhe levar a agir fora dos sábios princípios da Palavra de Deus. Deus é santo e bom. São destas virtudes que precisamos, no tempo da calma e no tempo da perturbação.
Jesus, quando expulsou os vendedores do tempo, aqueles que tomavam o nome de Deus em vão para fins comerciais, não pecou (Mateus 21.12-13). Esta é a nossa meta.
Os princípios da Bíblia são para funcionar 24 horas por dias, sempre para o nosso bem.
 
3. Tenha a coragem de perder, se for o caso (Lucas 9.25).
Li algo interessante de um jornalista de política. Observando o conflito israelo-palestino, ele escreveu: "Todos de fato querem a paz, exceto meia dúzia de tarados. Mas todos a querem nos seus termos, o que significa que a paz que querem pode ser o inferno para o[s] outro[s]. Todos querem a paz. A sua". [ROSSI , Clóvis. Todos querem a paz. A sua]. 
No mundo político a paz vem quando, numa guerra, o mais forte ou mais esperto, destrói o outro. Pode-se chamar a isto de paz? Chamamos e ainda pomos Deus no meio, orando para que Ele destrua os nossos inimigos, como fazem os poetas do Antigo Testamento antes de Jesus, cuja vitória foi a própria morte.
Antes de aprendermos com Jesus, cresçamos com Abraão. Quando seus empregados entraram em conflito com os empregados de Ló, ele decidiu perder e deu ao concorrente (e sobrinho -- não é dentro de casa que os conflitos são mais complexos?) a oportunidade de escolher os melhores campos. E houve paz, verdadeira paz. Sem que um aniquilasse o outro.

Quanto a Jesus, ele decidiu perder quando era o caso. Tentado, poderia detonar com o diabo, mas não o fez. Traído por Pedro, que o negou, poderia desclassifica-lo, mas o amou. Abandonado por seus discípulos, continuou apostando neles. Tentado a evitar a cruz, tomou-a e se deixou crucificar nela porque esta era a vontade do Pai.
Então, quando um homem rico, que vencia todas o procurou, seu conselho foi que devia ter a coragem de perder. Sua pergunta foi: que adianta ao homem ganhar tudo e perder sua vida? (Lucas 9.25) O desafio se aplica à decisão de receber a vida eterna (e quem não a tem deve aceitá-la), mas também pode ser estendido como um convite à renúncia daquilo que nos impede de ter o essencial, por causa das secundárias. Que adianta vencer, destruindo o adversário, se dentro de nós o conflito continua?
Se for o caso, decida perder, se este for o preço para a paz, no seu relacionamento em casa, na escola, no trabalho ou na igreja.
 
4. Decida sempre tendo em vista o que tem valor eterno (2Coríntios 4.18). 
Leiamos as inspiradas palavras do apóstolo Paulo, que diz:
 
"Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê,
mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório,
mas o que não se vê é eterno". 

(2Coríntios 4.18). 
 
E depois explica:
 
"Sabemos que, se for destruída a temporária habitação terrena em que vivemos, 
temos da parte de Deus um edifício, uma casa eterna nos céus, não construída por mãos humanas.
Enquanto isso, gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação celestial, 
porque, estando vestidos, não seremos encontrados nus. 
Pois, enquanto estamos nesta casa, gememos e nos angustiamos, 
porque não queremos ser despidos, mas revestidos da nossa habitação celestial, 
para que aquilo que é mortal seja absorvido pela vida. 
Foi Deus que nos preparou para esse propósito, 
dando-nos o Espírito como garantia do que está por vir. 
Portanto, temos sempre confiança e 
sabemos que, enquanto estamos no corpo, estamos longe do Senhor. 
Porque vivemos por fé, e não pelo que vemos"
(2 Coríntios 5.1-7)
 
Estamos tomando decisões visando coisas que desaparecem ou mirando aquilo que tem valor eterno?

Se formos honestos, notaremos que a maioria de nossas brigas visa vitórias de Pirro. (Como sabemos, Pirro foi o general grego que, em 279 a.C., venceu a Batalha de Ásculo contra os romanos, mas pagou um alto preço, com muitas perdas humanos. Ele, vitorioso, teria dito: "Mais uma vitória como esta, e estou perdido". Vitória de Pirro designa um triunfo que traz, no seu bojo, prejuízos irreparáveis, às vezes maiores que os de uma derrota).
Se formos honestos, observaremos que muitas vitórias que alcançamos têm o mesmo valor das derrotas. Não fazem diferença alguma naquilo que importa. É como ganhar uma discussão? O que ganhamos? Quase sempre um inimigo.
 
Quando Jesus diz que não devemos perturbar os nossos corações, ele acrescenta:

"Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu lhes teria dito. 
Vou preparar-lhes lugar. 
E se [quando]eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para mim,
para que vocês estejam onde eu estiver". 
(João 14.2-3)
 
Eis a promessa que importa.
É por este tipo de esperança que devemos viver.
 
5. Por último, porque atitude mais importante: Confie em Deus, ao ponto de deixar que Ele aja (Salmo 37.5), em parceria conosco ou não. Não é Deus quem preserva a nossa vida impedindo que os nossos pés escorreguem? (Salmo 66.9)

Quando não confiamos em Deus, desesperamos e fazemos do nosso jeito, o que só faz aumentar (não reduzir) nossa perturbação. Agimos porque Deus demora. Agimos porque nosso braço é mais longo que o dEle. Agimos porque somos mais rápidos. Somos? A pergunta que está em Jó deve nos servir de convite à confiança: "Seu braço é como o de Deus, e sua voz pode trovejar como a dele?" (Jó 40.9).

Quando não confiamos em Deus, impedimos que Deus aja. Deus não disputa sabedoria conosco. Deus não disputa soberania conosco. Ele não nos dispensa de agir, mas nos convida a deixar o controle com Ele. Ele enxerga acima da montanha. Ele sabe o que vem depois da curva. Ele vê abaixo da superfície.

Quando confiamos em Deus, desconfiamos -- o que é sempre necessário -- de nós mesmos. Nosso coração não é mesmo enganoso? (Jeremias 17.9)

Quando confiamos em Deus, cremos que Ele é o conselheiro maravilhoso, o Deus todo-poderoso, o Pai eterno e Príncipe da paz (contra toda a perturbação)? (Isaías 9.6)
Quando confiamos em Deus, pomos em prática o que dizemos em nossas orações e em nossos louvores. Confiar é pôr a fé em prática.

Quando confiamos em Deus, termos a oportunidade de ver Deus em ação, conhecendo-O ainda mais. Jônatas foi para uma batalha crendo assim: “Nada pode impedir o Senhor de salvar, seja com muitos ou com poucos” (1Samuel 14.6), isto é, estejamos fracos ou fortes, tenhamos muitos recursos ou poucos. Afinal, quando a mão de Deus está estendida em nossa direção, "quem pode fazê-la recuar?" (Isaías 14.27)
 
Israel Belo de Azevedo
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