Atravessando o caos


"Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei." João 2:19


O teólogo Paul Tillich afirma que na transição do velho para o novo há a existência do caos. Para Tillich - um dos grandes teólogos do século passado - entre o velho e o novo há o momento do desagrupar para juntar-se de novo, o momento de não ser para tornar a existir.


Vemos que o texto acima fala deste momento de transição da morte de Jesus para que o novo pudesse acontecer para a humanidade. Era necessário o momento do caos - o tempo de sua morte - para que a novidade da ressurreição acontecesse.


Podemos entender este tempo de transição - caos - como aquele momento em que o trapezista solta suas mãos da barra em que está sustentado, na expectativa de conseguir segurar-se na outra barra a sua frente, este trajeto que parece tão curto para os nossos olhos pode durar uma eternidade para aquela pessoa suspensa no nada. Para que possa chegar à outra barra o trapezista necessita passar por este tempo de transição.



Quando olhamos para a Palavra de Deus, podemos perceber que entre o derribar e o levantar de Jesus, há um lapso de tempo de três dias.
Três dias cheios de questionamentos, angústias, e dúvidas como as vidas que cobriram o coração dos discípulos no caminho de Emaús.
Parece que a vida é cheia destes momentos em que nós nos desconstruímos, tudo parece uma sequência sem sentido, para que então o novo possa se mostrar.


Parece ter sido assim com o povo de Israel na transição do Egito para Canaã, com José, de escravo para governador no Egito e com Jesus Cristo, da cruz para a ressurreição.


Muitas vezes queremos muito uma coisa, mas não queremos nos desapegar da outra, queremos receber o novo, mas não nos desapegamos das coisas velhas.


"Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo." II Cor 5:17
Precisamos ter a coragem de enfrentar o caos e passarmos para o novo que Deus tem para nossas vidas.


Pessoas não recebem o novo porque não possuem a coragem de se lançarem ao ar para os braços do Pai, querem a certeza do novo para depois tirarem as mãos do que é velho e assim permanecem sem a graça do novo, querem a alegria do domingo da ressurreição sem passarem pelos dias de choro e de dúvidas dos dias anteriores.


O cristão vive de certa maneira sempre atravessando o abismo da incredulidade como diz a Bíblia: "ORA, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem" Hebreus 11:1. 


Penso que este caos de que Paul Tillich fala teologicamente, na prática seriam os "vales da sombra da morte", os "desertos", o "choro da noite", as "tempestades do mar". 


Certa vez em uma de nossas aulas de missiologia, o professor começou a contar das dificuldades na missão transcultural.


Ele nos relatou que logo quando chegou ao país em que iria fazer missão, teve uma sensação desesperadora. Quando viu todo mundo falando inglês, teve a forte sensação de que iria esquecer o português naquele país e não iria aprender o inglês.


Hoje ele tem fluência no inglês e ainda fala muito bem o português.
O fato é que nestes momentos de transição em nossa vida, precisamos ter a coragem de enfrentar o caos.


Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação.  II Tim. 1:7


Não tenha o medo de enfrentar o caos, pois do outro lado do caos temos os braços do Pai para nos segurar.


Reprodução Autorizada desde que mantida a integridade dos textos, mencionado o autor e o sitehttp://www.institutojetro.com/ e comunicada sua utilização através do e-mail artigos@institutojetro.com

Armando Altino da Silva Júnior
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