Você conhece o amor?


Ao longo de quase 30 anos de experiência profissional como terapeuta de casais e de famílias, não foram poucas as vezes em que me deparei com casais em processo de separação, com a seguinte alegação para o término do relacionamento: “Eu não (o/a) amo mais!”.


Nossa sociedade, sob o lema “você precisa ser feliz”, inculca nas mentes a máxima hedonista de que a felicidade é resultado de um bem-estar pessoal, individual e exclusivo. Na maioria das vezes, para o mundo assentado sobre o capital, isso se traduz em conforto material e acúmulo de bens; parece absurda a ideia de uma felicidade relacional, interpessoal e inclusiva. Assim, se vive o matrimônio como uma “república conjugal”, onde se dividem espaços, tarefas e deveres financeiros, e se desfruta do prazer no uso sexual do outro -- mas não se constrói a ideia do “reino do nosso”.


Lamentavelmente, o modelo individualista está muito presente entre os casais cristãos. E a ideia de se buscar a felicidade por meio desse modelo logo resulta na eliminação de tudo que possa causar desconforto ou ser empecilho -- inclusive o cônjuge. Justificam-se separações e divórcios com a ideia de que “não existe mais amor”. Entretanto, perguntamos: o que é o amor? Brenson Lazán afirma:


a psicologia e a psiquiatria, ciências a princípio dedicadas a estudar a conduta humana e suas disfunções, parecem reticentes ao considerar o amor como um termo de investigação ou interesse. A palavra amor simplesmente não é aceita nos meios científicos. [...] No princípio do século, Sigmund Freud se negou a tratar o tema, dizendo que não possuía suficiente conhecimento para fazê-lo. [...] Todavia algumas correntes psicológicas têm chegado ao outro extremo: o cientificismo. Em uma revista de psiquiatria, um autor comentou que o amor é: “Um estado alterado de consciência que tem rasgos marcados de psicose temporal; um estado mental indefinível, incontrolável e irracional”.1


Os dicionários trazem definições vagas para o termo, que variam da ideia de compaixão à da libido. A Bíblia, em suas várias traduções, apresenta 32 palavras distintas entre hebraicas, gregas e aramaicas para “amor”. Assim, quando alguém fala que “acabou o amor” eu fico pensando a que essa pessoa realmente se refere.


Gosto, particularmente, de uma definição de amor da Bíblia que está em 1 João 3.16. O autor afirma que conhecemos o amor quando damos nossa vida pelo nosso irmão. Penso que nosso “irmão” mais próximo é nosso cônjuge e amá-lo significa dar a vida por ele. Não em um literalismo barato e irrealizável. Dar a vida não significa apenas se jogar na frente de um carro para evitar que o outro seja atropelado. A possibilidade de acontecer uma situação semelhante a essa ao longo da vida é mínima.


Nossa vida na Terra nada mais é que uma quantidade indefinida de tempo que Deus dispõe para cada um. Então, dar a vida significa abrir mão do tempo que tenho para meu usufruto e doá-lo ao meu cônjuge. E isso é contracultura, pois a sociedade nos ensina a sermos autocentrados e egoístas. Um exemplo clássico que costumo citar em palestras e encontros que ministro para casais é o do marido que no domingo à tarde quer assistir a partida de futebol de seu time predileto e a esposa lhe pede um favor. Dar a vida, neste caso, significa abrir mão do meu tempo de lazer e utilizá-lo em favor do meu cônjuge. Isso é sacrifício, é morte! Morte sacrificial!


Somente assim vamos aprender o que é o “verdadeiro amor”. O amor com o qual Cristo nos amou. Lembrando sempre que “não há ressurreição sem morte!”.


Nota
1. BRENSON LAZÁN, Gilbert. “El Reino de lo Nuestro”. Bogotá: Editorial Solar, 1980.


Carlos “Catito” e Dagmar são casados, ambos psicólogos e terapeutas de casais e de família. Catito é autor de Como se Livrar de Um Mau Casamento e Macho e Fêmea os Criou, entre outros.


Fonte: Ultimato
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