Muitas vezes os preceitos religiosos esbarram na dinâmica profissional. O respeito e o diálogo são os requisitos fundamentais para que funcionários e empregadores estejam em harmonia nesse aspecto
Breno Fortes CBDAPress |
Adventistas, Élcio e os filhos Guilherme e Luiza reúnem os funcionários interessados e promovem um momento de reflexão espiritual |
A busca pela oportunidade certa no mercado de trabalho passa, para muitas pessoas, pelo respeito à diversidade religiosa. Determinadas crenças podem exigir posturas específicas dentro do ambiente profissional. Por isso, não se assuste se, durante uma entrevista, o recrutador perguntar sobre quais dogmas você segue.
De acordo com Marillac de Castro, consultora de Recursos Humanos da Intellijob, abordagens assim já não são raras. “As empresas podem fazer esse tipo de pergunta para saber qual é a disponibilidade de trabalho do candidato”, explica. Demandas que podem exigir, por exemplo, a presença do funcionário em um período além da jornada pré-estabelecida ou em um treinamento durante o sábado podem alterar a rotina de profissionais que dedicam horários e rotinas específicas às doutrinas religiosas.
Entre os fiéis que precisam ter essa relação bem definida estão os adventistas, que têm como preceito a guarda dos dias de sábado. Pastor da Igreja Adventista Central de Brasília, Sandro Braun explica que esse recesso está nos textos bíblicos. “Em seis dias, o Senhor criou o céu e a terra e, no sétimo, descansou. É um momento dedicado à família e a ajudar o próximo. Dessa forma, quem segue as orientações cem por cento vai tentar contornar a situação junto à empresa”, diz.
Situação semelhante vivem os judeus, que em Brasília chegam a 200 famílias. No sétimo dia, eles comemoram o Shabat, que começa a ser celebrado desde o pôr do sol das sexta-feiras até o dos sábados. Nesse intervalo, os seguidores do judaísmo devem evitar atividades que derivam de 39 ações básicas. “Os mais ortodoxos podem deixar de realizar tarefas como atender telefone, utilizar computadores ou até mesmo dirigir”, explica o coordenador cultural da Associação Cultural Israelita de Brasília (Acib), Abrahan Melul.
Mas, para evitar problemas relacionados à prática religiosa no ambiente de trabalho, Marillac de Castro defende que é importante o funcionário explicitar sua crença durante a entrevista. Opinião compartilhada por Sandro Braun. “O importante é não deixar ser uma surpresa para a empresa”, destaca o pastor, cuja doutrina conta com 25 mil pessoas no Distrito Federal. Segundo Abrahan Melul, a postura do funcionário com o empregador varia de acordo com a conduta religiosa de cada pessoa. “Existem aqueles que são mais maleáveis e que, caso sejam solicitados, podem vir a trabalhar durante o Shabat.”
O coordenador da Acib conta, porém, que há situações em que os mais ortodoxos chegam a levar faltas no trabalho. Isso acontece, muitas vezes, quando a importância do aspecto religioso na vida do funcionário é omitida. E esse tipo de lacuna pode causar transtornos. Marillac de Castro lembra que, durante um processo seletivo, não foi informada da religião de uma candidata. Contratada e com o uniforme em mãos, a nova funcionária se recusou a usar a vestimenta, composta por blusa e calça, por ir contra os princípios da igreja dela, a Assembleia de Deus.
O pastor da Assembleia de Deus do Plano Piloto Hadman Daniel Silva conta que a postura da trabalhadora está justificada na passagem bíblica que diz que mulheres não devem usar roupas masculinas. Mas argumenta que nem todas as igrejas seguem essa linha. “O princípio é válido para todos, mas a aplicação varia de acordo com a liderança”, explica. Para evitar constrangimentos religiosos e profissionais em locais de trabalho, a conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal (OAB-DF) Francisca Aires recomenda que empregador e trabalhador sigam as diretrizes estabelecidas no ato da contratação. “Se a conduta do funcionário se chocar com o estabelecido em contrato, pode criar motivos para uma futura demissão”, informa.
Convívio valorizado
O equilíbrio entre a religião e o trabalho é a fórmula de sucesso do Grupo Afinidade. Especializada na administração de planos privados de assistência à saúde, a companhia é administrada por Élcio Moraes e os filhos Luiza e Guilherme, todos adventistas. “Os valores religiosos são trazidos para a empresa de forma a melhorar o convívio e o ambiente profissional. Diante disso, as tarefas são interrompidas a partir do pôr do sol da sexta-feira”, explica Luiza. Segundo Guilherme, essa aproximação entre as duas esferas em nada prejudica o rendimento e a produtividade no grupo. “Pelo contrário: traz ainda benefícios, já que os funcionários não se sentem sobrecarregados”, garante.
Com a intenção de valorizar a espiritualidade e a satisfação no ambiente de trabalho, os gestores desenvolveram o programa Bem Viver, que engloba atividades físicas e religiosas. “Temos nele um momento dedicado à reflexão espiritual. O encontro acontece antes do horário de trabalho e reúne apenas aqueles que têm interesse. Durante esse momento, não existe hierarquia”, conta Luiza Moraes. De acordo com a presidente, as ações do programa facilitam o relacionamento entre os funcionários. Mas, apesar da iniciativa, Élcio Moraes acredita que não se pode fazer da empresa um lugar de devoção. “Essa é uma opção feita por cada pessoa. As ações visam apenas trazer benefícios”, ressalta.
Negociação
Quando um funcionário quer e precisa se ausentar ou limitar suas atividades por causa de uma data comemorativa de sua religião, é importante que esteja disposto a negociar com o empregador. “Temos o Dia do Perdão (Yom Kippur), quando se fica 24 horas de jejum. Além disso, durante os oito dias de comemoração da páscoa judaica, os dois primeiros e os dois últimos dias seguem o mesmo princípio do Shabat”, explica Abrahan Melul.
A recrutadora Graciely Munhoz, da Employer Organizações em Recursos Humanos, avalia que a liberação fica a critério da empresa. “Existem companhias nas quais não existe negociação. E mesmo naquelas onde há acordo é importante que o profissional evite os afastamentos com muita frequência”, alerta. Segundo Francisca Aires, da OAB-DF, não existem leis que liberem o funcionário das atividades profissionais por motivos religiosos.
De acordo com Marillac de Castro, consultora de Recursos Humanos da Intellijob, abordagens assim já não são raras. “As empresas podem fazer esse tipo de pergunta para saber qual é a disponibilidade de trabalho do candidato”, explica. Demandas que podem exigir, por exemplo, a presença do funcionário em um período além da jornada pré-estabelecida ou em um treinamento durante o sábado podem alterar a rotina de profissionais que dedicam horários e rotinas específicas às doutrinas religiosas.
Entre os fiéis que precisam ter essa relação bem definida estão os adventistas, que têm como preceito a guarda dos dias de sábado. Pastor da Igreja Adventista Central de Brasília, Sandro Braun explica que esse recesso está nos textos bíblicos. “Em seis dias, o Senhor criou o céu e a terra e, no sétimo, descansou. É um momento dedicado à família e a ajudar o próximo. Dessa forma, quem segue as orientações cem por cento vai tentar contornar a situação junto à empresa”, diz.
Situação semelhante vivem os judeus, que em Brasília chegam a 200 famílias. No sétimo dia, eles comemoram o Shabat, que começa a ser celebrado desde o pôr do sol das sexta-feiras até o dos sábados. Nesse intervalo, os seguidores do judaísmo devem evitar atividades que derivam de 39 ações básicas. “Os mais ortodoxos podem deixar de realizar tarefas como atender telefone, utilizar computadores ou até mesmo dirigir”, explica o coordenador cultural da Associação Cultural Israelita de Brasília (Acib), Abrahan Melul.
Mas, para evitar problemas relacionados à prática religiosa no ambiente de trabalho, Marillac de Castro defende que é importante o funcionário explicitar sua crença durante a entrevista. Opinião compartilhada por Sandro Braun. “O importante é não deixar ser uma surpresa para a empresa”, destaca o pastor, cuja doutrina conta com 25 mil pessoas no Distrito Federal. Segundo Abrahan Melul, a postura do funcionário com o empregador varia de acordo com a conduta religiosa de cada pessoa. “Existem aqueles que são mais maleáveis e que, caso sejam solicitados, podem vir a trabalhar durante o Shabat.”
O coordenador da Acib conta, porém, que há situações em que os mais ortodoxos chegam a levar faltas no trabalho. Isso acontece, muitas vezes, quando a importância do aspecto religioso na vida do funcionário é omitida. E esse tipo de lacuna pode causar transtornos. Marillac de Castro lembra que, durante um processo seletivo, não foi informada da religião de uma candidata. Contratada e com o uniforme em mãos, a nova funcionária se recusou a usar a vestimenta, composta por blusa e calça, por ir contra os princípios da igreja dela, a Assembleia de Deus.
O pastor da Assembleia de Deus do Plano Piloto Hadman Daniel Silva conta que a postura da trabalhadora está justificada na passagem bíblica que diz que mulheres não devem usar roupas masculinas. Mas argumenta que nem todas as igrejas seguem essa linha. “O princípio é válido para todos, mas a aplicação varia de acordo com a liderança”, explica. Para evitar constrangimentos religiosos e profissionais em locais de trabalho, a conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal (OAB-DF) Francisca Aires recomenda que empregador e trabalhador sigam as diretrizes estabelecidas no ato da contratação. “Se a conduta do funcionário se chocar com o estabelecido em contrato, pode criar motivos para uma futura demissão”, informa.
Convívio valorizado
O equilíbrio entre a religião e o trabalho é a fórmula de sucesso do Grupo Afinidade. Especializada na administração de planos privados de assistência à saúde, a companhia é administrada por Élcio Moraes e os filhos Luiza e Guilherme, todos adventistas. “Os valores religiosos são trazidos para a empresa de forma a melhorar o convívio e o ambiente profissional. Diante disso, as tarefas são interrompidas a partir do pôr do sol da sexta-feira”, explica Luiza. Segundo Guilherme, essa aproximação entre as duas esferas em nada prejudica o rendimento e a produtividade no grupo. “Pelo contrário: traz ainda benefícios, já que os funcionários não se sentem sobrecarregados”, garante.
Com a intenção de valorizar a espiritualidade e a satisfação no ambiente de trabalho, os gestores desenvolveram o programa Bem Viver, que engloba atividades físicas e religiosas. “Temos nele um momento dedicado à reflexão espiritual. O encontro acontece antes do horário de trabalho e reúne apenas aqueles que têm interesse. Durante esse momento, não existe hierarquia”, conta Luiza Moraes. De acordo com a presidente, as ações do programa facilitam o relacionamento entre os funcionários. Mas, apesar da iniciativa, Élcio Moraes acredita que não se pode fazer da empresa um lugar de devoção. “Essa é uma opção feita por cada pessoa. As ações visam apenas trazer benefícios”, ressalta.
Negociação
Quando um funcionário quer e precisa se ausentar ou limitar suas atividades por causa de uma data comemorativa de sua religião, é importante que esteja disposto a negociar com o empregador. “Temos o Dia do Perdão (Yom Kippur), quando se fica 24 horas de jejum. Além disso, durante os oito dias de comemoração da páscoa judaica, os dois primeiros e os dois últimos dias seguem o mesmo princípio do Shabat”, explica Abrahan Melul.
A recrutadora Graciely Munhoz, da Employer Organizações em Recursos Humanos, avalia que a liberação fica a critério da empresa. “Existem companhias nas quais não existe negociação. E mesmo naquelas onde há acordo é importante que o profissional evite os afastamentos com muita frequência”, alerta. Segundo Francisca Aires, da OAB-DF, não existem leis que liberem o funcionário das atividades profissionais por motivos religiosos.
Correio Braziliense
Fonte: Uai.com - Admite-se
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