No país dos sonhos



Quando se fala em sonhos, a ideia do que fazer com o futuro, uma boa ilustração é a conversa entre Alice (a do País das Maravilhas) e o Gato Risonho. Perdida, ela pediu ajuda ao Gato, que respondeu: “Ora, se você está perdida, qualquer caminho serve”. Quando não se tem um sonho, um norte, uma saída possível é escolher qualquer caminho. Outra possibilidade é trilhar o maior número de caminhos, nos enfurnar em um ativismo maluco e ver onde a vida nos leva. Mas isso pode gerar canseira e vontade de desistir. Sonhar com intensidade pode também não ser a solução completa. Assim, precisamos rever a importância dos sonhos em nossa vida e a diferença que faz o sentido de esperança que associamos a eles.

Deus fez o homem e a mulher com a brilhante capacidade de criar e modificar as coisas ao seu redor. Isso é uma benção -- se feito com a consciência de que nossos atos criativos devem refletir a imagem de Deus, que é bela, verdadeira e repleta de significado. Viver essa imagem nos dá sentido, nos faz desfrutar de Deus e mostrar sua glória a todas as criaturas. Essa capacidade criativa inspira de forma maravilhosa nossa imaginação e isso nos leva a sonhar. Quando falamos em “sonhos”, referimo-nos ao desejo por algo diferente, que nasce no ser humano a partir do momento em que ele constata que sua realidade poderia ser melhor. E quando surge um sonho, nasce com ele a esperança, que significa esperar por algo que se deseja.

No entanto, precisamos entender o real sentido de esperança, para que ela nos ajude a sonhar. Um integrante do Centro de Estudos L’abri Brasil afirmou em recente palestra que a esperança é uma virtude cristã, desenvolvida por meio de dois exercícios também cristãos: lamentação e experiência com Deus. O Salmo 13 mostra como os dois exercícios (mesmo parecendo antagônicos) se completam, pois lamentar não é o mesmo que murmurar. Lamentar é enxergar a realidade como ela é, perceber que não deveria ser assim e clamar para que algo seja diferente. Por meio do nosso relacionamento com Deus, é possível experimentar de forma real, mesmo que singela, sua graça e misericórdia sendo derramadas sobre nossa vida, aliviando-nos do peso da aflição que o pecado nos causa. Como o autor do salmo experimenta a graça do Senhor e o seu livramento, ele louva e aguarda pela intervenção divina. Isso tem um efeito fantástico no que esperamos para o porvir. Se sonhamos com uma realidade diferente para nós e para o mundo, e já podemos experimentar parte desse sonho nos dias atuais, a certeza de que esse sonho é real e está para chegar aumenta -- e isso intensifica nossa fé e nossa perseverança.

Como a nossa vida cotidiana não se dissocia da realidade espiritual, essa “fórmula” se aplica a todo tipo de sonho. Lembrar que nossa esperança maior está no dia em que Cristo se tornará Senhor de todas as coisas de forma plena e que, por causa da sua graça, já é possível experimentar esse senhorio hoje, nos inspira a sonhar.

Na pesquisa “Juventude Evangélica: crenças, valores, atitudes e sonhos”, feita pela Editora Ultimato em agosto de 2010 com 1.960 jovens, 1.415 relataram qual é o seu maior sonho. Muitas respostas se enquadram em quatro grupos: “constituir família” (30%), “relacionamento com Deus” -- buscar a vontade dele, responder ao seu chamado (17%), “realização pessoal” -- profissão, estabilidade, conclusão de curso (17,7%), e “salvação” -- conversão de amigos e familiares e ir para o céu (7,2%).

Olhar para o resultado dessa pesquisa é como ouvir um bando de jovens dizendo: “Realmente, Deus, seus sonhos são muito bons e queremos não só sonhar com eles, mas vivê-los também”. Viver a humanidade que Deus planejou para nós é um sonho que deve ser preservado. Que escolhamos nossos caminhos sob a orientação do Pai, para que não precisemos, como Alice, em algum momento acordar de um sonho (ou de uma vida inteira) ruim.

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