Crianças sem rumo


Pelo que depreendo da leitura dos jornais, pelo que assisto na televisão e ouço pelas rádios, ensinar, educar, formar os adolescentes se tornou um desafio para pais e mestres. Acentua-se a inclinação para a rebeldia, característica dos jovens em todos os tempos e lugares. 

"O Parasita", jornal da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, oferece um convite para uma festa brega aos estudantes do curso, que jogaram fezes em um homossexual. A publicação é feita por alunos e circula por e-mail, para dificultar o identificação dos autores.

Aliás, a Internet, tão útil, tem contribuído para deformações e desvios, que ganham espaço, porque instrumento ágil de comunicação, que consegue guardar inúmeros segredos. É bom, mas perigoso. Outro dia, o repórter Augusto Franco focalizou aqui o "sexting", compartilhamento de imagens íntimas ou sensuais pela Internet.

Pesquisa da associação Safenet Brasil, após entrevista com 2.159 crianças e adolescentes, forneceu um quadro inquietante, que os pais não conhecem. Ou não se interessam. Segundo o jornalista, o "sexting" está caindo no gosto de grupos de jovens. Fazem-se imagens - fotos e vídeos - em roupas intimas, poses provocantes e até um ato sexual, e se colocam na Internet. As imagens são usadas para ironizar, chantagear ou humilhar. Um aparentemente episódio inocente produz pornografia e causa danos imprevisíveis. Para Alexandre Atheniense, especialista em crimes virtuais, o problema é muito mais sério do que se supõe e o fenômeno avança célere.

Há uma notória evasão de crianças nas escolas do Brasil. Mas há também aquelas que nunca foram, ou porque não querem, ou porque os genitores pouco se incomodam. Tanto faz, como tanto fez. Produzida a cria, que se arrume pelos tortuosos caminhos da existência.
Os responsáveis neste país são sofredores: sejam os professores, sejam os alunos, os pais e os administradores que ainda têm alguma coisa boa na cabeça, não o "chulues cranianus", como dizia um falecido mestre.

Anis José Leão, professor aposentado de Legislação e Ética de Comunicação da UFMG, relatava, há algum tempo, o que faz um mestre. Além de transmitir instrução para o discípulo, tem de educá-lo. Instruir é fornecer elementos novos de saber, educar é aperfeiçoar todas as faculdades humanas, posto que a perfeição, embora inatingível, é o limite para o qual tendem todos os nossos esforços, conforme Backeuser.
No entanto, existem greves, tanto no magistério público quanto no privado. Quem paga são os alunos e os pais, e a sociedade enfim, prejudicada pela interrupção das atividades escolares. Os patrões, isto é, os empresários do ensino ou o Governo, isto é os gestores do dinheiro público utilizado para um fim definido, e que tem objetivo claro. Mas há divergências e arestas que levam às greves, que agora contribuem para paralisação do trânsito de veículos e pessoas.

Os apedeutas não se interessam muito com o problema, que existe e é sério. Sobrevivem até ranços da velha ideia de políticos que achavam - ver Anis Leão - que essa gente do magistério só serve para dar prejuízo, com água, luz, elevador, giz, papel, computador, tinta. No fim, dá-se 2% de aumento na gratificação, incorporável, "y la huelga se va".

O que fascina hoje é mais pós-graduação, doutorado e mestrado, que servem para dar corpo ao currículo e pesar para efeito de candidatura a cargos e funções. Mas o ensino elementar ainda anda mal, o médio segue por aí, e o universitário deixa a desejar. Claro que há os universitários que vencem na profissão e na vida, reiteradamente por esforço próprio e vontade.

Quanto à formação dos estudantes, a situação inquieta. Sequer as formaturas, que eram um espetáculo de civismo, são mais respeitadas. Outro dia, recebi um convite desses, em que se orientava para o bem-estar de todos, que não se utilizassem apitos, buzines, cometas, instrumentos musicais, faixas, cartazes, artefatos explosivos ou outros objetos que causem desconforto ou ponham em risco a segurança.

Precisaria dizer? Era uma solenidade ou uma partida de futebol? Assassina-se, assim, a dignidade de um ato tão relevante para a sociedade e a nação. 

Manoel Hygino dos Santos 

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