A soberania universal de Cristo

René Padilla
As palavras de Jesus em Mateus 28.16-20 contêm, em primeiro lugar, uma afirmação de sua soberania universal: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (v. 18b). Esta afirmação é anterior ao mandato de fazer discípulos (v. 19-20a) e à promessa de sua presença constante com seus seguidores (v. 20b). É importante notar também que quem faz esta afirmação é o Cristo ressuscitado, o Cristo que “foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 1.4).

O que podemos dizer a respeito de sua autoridade?

Em primeiro lugar, que é uma “autoridade que é dada a Jesus e que ele recebe do Pai”. Ainda que, por ser a segunda pessoa da Trindade, ele já possua uma forma de autoridade, vale notar que a autoridade citada aqui é a que ele recebe em virtude de sua obediência sem reservas à vontade de Deus. Nas palavras do apóstolo Paulo em sua Carta aos Filipenses, Cristo Jesus, “subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2.5-11).
Toda a vida de Jesus Cristo é uma magnífica ilustração de um princípio que faz parte de seus ensinamentos: “Todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado” (Lc 14.11). Ao sofrer a morte de cruz que o Império Romano reservava para os que se rebelavam, ele desceu ao ponto mais fundo da humilhação; ao ressuscitá-lo, “Deus o exaltou sobremaneira” (literalmente: o “superexaltou”) -- lhe deu “toda a autoridade no céu e na terra”, ou seja, o fez Senhor de todo o universo.

Em segundo lugar, a autoridade que Jesus recebeu do Pai foi uma “autoridade que ele obteve como Messias crucificado”.

Sua crucificação foi a culminância de sua humilhação, mas toda a sua vida, do princípio ao fim, esteve marcada pela humildade. Ele é tentado por Satanás no próprio começo do seu ministério terreno. Uma das três tentações às quais ele é submetido é a tentação do poder, quando o diabo o leva a uma montanha muito alta, mostra-lhe “todos os reinos do mundo e a glória deles” e lhe diz: “Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares”. Jesus lhe responde: “Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto” (Mt 4.9-10). Jesus tinha plena consciência de que sua missão messiânica não seria cumprida por meio de um Messias conquistador, segundo as expectativas judaicas nacionalistas, mas por meio do Filho do Homem, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.45). Sua autoridade não é a de um rei capaz de se impor pela força das armas; é a autoridade de um Rei-servo.

Como é importante tomarmos consciência de que o Senhor que nos envia em missão não é um rei prepotente, mas o Messias crucificado, cuja autoridade possui uma estreita relação com sua disposição de entregar-se a si mesmo inspirada pelo amor!

Traduzido por Wagner Guimarães

• C. René Padilla é fundador e presidente da Rede Miqueias, e membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de O Que É Missão Integral? (Editora Ultimato).


Fonte: Ultimato
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