Alfabetização insuficiente


Programas sociais por si sós de nada adiantam, pois não garantem o crescimento contínuo da economia, não instruem as pessoas a serem cidadãos pensantes



A passagem do Dia Internacional da Alfabetização, em 8 de setembro, sinalizou uma ótima oportunidade para refletirmos sobre a educação no Brasil e percebermos que, conforme dados do IBGE, ainda temos pouco o que celebrar. Atualmente, cerca de 10% da população com mais de 15 anos é formada por analfabetos, correspondendo a aproximadamente 14,2 milhões de pessoas, um dado preocupante. Afinal, qualquer nação em que a população, especialmente a jovem, é formada por analfabetos ou semianalfabetos está fadada a manter um baixo desenvolvimento econômico e político. 


Essa constatação é facilmente verificada num breve comparativo. De acordo com a Unesco, o Brasil é o país da América Latina que apresenta a maior taxa de repetência média para todas as séries do ensino fundamental: 18,7%. A média do continente e Caribe é 4,4%, ou seja, as crianças brasileiras repetem de ano quatro vezes mais que nos outros países latino-americanos.

Esses dados mostram o quanto a educação no ensino fundamental e médio ainda é muito deficitária. Preparamos mal nossas crianças e adolescentes, que, não raramente, saem do ensino m[edio sem conseguirescrever um texto com início, meio e fim. Os professores desses níveis são pouco valorizados, ganham salários muito baixos e os incentivos para o aperfeiçoamento profissional são quase nulos.

A Finlândia, país localizado no Norte europeu, por exemplo, tem investimento público em educação em relação ao PIB de 6,1%. É a nação com o menor índice de corrupção no mundo, garantindo que o aproveitamento dos recursos públicos seja ainda maior. Todos os níveis escolares são gratuitos e são obrigatórios na faixa dos 7 aos 16 anos. Existem cerca de 20 universidades e 29 institutos de ensino superior com uma frequência aproximada de 135 mil estudantes, em um país com cerca de 5,2 milhões de habitantes. Conta ainda com um dos melhores índices de qualidade de vida em todo o mundo.

No Brasil, com quase 200 milhões de habitantes, o número de universidades públicas é pouco mais de 120 e apenas 3,9% do PIB é investido em educação. Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), nosso país perde US$ 3,5 bilhões por ano, como prejuízo à produtividade, provocado por fraudes públicas. Tanto dinheiro, se fosse direcionado à educação, traria benefícios a médio prazo para o país.

É somente por meio da educação de qualidade que a tão sonhada e discutida distribuição de renda mais igualitária poderá de fato acontecer. Programas sociais por si sós de nada adiantam, pois não garantem o crescimento contínuo da economia, não instruem as pessoas a serem cidadãos pensantes nem estimulam o crescimento pessoal e profissional deles.

População educada é população pensante, que conhece seus direitos e deveres. Quem ganha com isso é o país por aumentar a mão de obra qualificada e, consequentemente, conseguir crescer. Quando se tem níveis de escolaridade alta, como no caso da Finlândia, consegue-se, comprovadamente, reduzir a violência e até os números relacionados à saúde melhoram. Quanto mais a população é bem informada, mais fácil é a prevenção de doenças.

País com educação de qualidade, acessível e gratuita em todos os níveis é sinônimo de país desenvolvido. Apenas quando tomarmos consciência desse fato é que vamos realmente conseguir fazer do Brasil um país verdadeiramente de todos.


Carlos Cruz
Coordenador pedagógico do Pro-Labore OAB e concursos.
Fonte: Jornal ESTADO DE MINAS  
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