Como resguardar a criança do sexo precoce, da pornografia e da homossexualidade

Carlos "Catito" Grzybowski

Entender por que uma pessoa se comporta como se comporta sempre foi um dos mistérios da humanidade. Para responder a esse mistério, vários campos do saber, como a filosofia, a psicologia, a biologia, a antropologia, a sociologia e a teologia, têm criado teorias que abarcam desde aspectos exclusivamente biológicos até aspectos de cunho unicamente transcendental.


A verdade é que, até o presente momento, temos muitas teorias e poucas certezas sobre o que realmente define a conduta humana.


As vertentes mais comuns que encontramos hoje na ciência e na cultura quando se trata de explicar o comportamento humano podem ser agrupadas em cinco grandes blocos: “teorias biologicistas ou organicistas”, “teorias da aprendizagem, teorias do inconsciente”, “teorias de base espiritual” e “teoria dos sistemas”.

As “teorias biologicistas ou organicistas” postulam que o comportamento é resultado de transmissões neuronais, e estas, determinadas no código genético -- falando de modo bem geral. O grande impasse nessa perspectiva é a impossibilidade de saber se é a biologia que determina a conduta ou se é a conduta que altera a biologia. A velha questão do ovo ou a galinha. Pode-se até averiguar a perda de transmissão neuronal em alguns comportamentos (como a depressão), mas não se pode definir exatamente se ela é causa ou consequência da disposição mental. Muitos cientistas hoje afirmam categoricamente que a biologia determina a conduta, mesmo porque isso impulsiona a indústria farmacêutica. Entretanto, os estudos feitos até hoje sobre o genoma humano não sustentam esse determinismo. Da mesma forma que a ansiedade pode causar um “curto-circuito” em nosso sistema neurovegetativo e jogar suco gástrico em um estômago vazio, causando gastrite e até úlcera, não se pode afirmar que não ocorram tais “curtos-circuitos” na produção de neurotransmissores sob certas condições extracorpóreas. As pessoas querem soluções rápidas para aliviar todo tipo de sofrimento (inclusive o mental); as indústrias farmacêuticas investem fortunas no desenvolvimento de pesquisas que apontem soluções químicas para a conduta e a mídia se encarrega de tornar dogmáticas as teorias biologicistas. Gregory Bateson1 é categórico em contrapor-se a essa teoria afirmando que “não há nenhum comportamento [...] e nenhuma aprendizagem nos próprios cromossomas”. Infelizmente a paz não vem em cápsulas!

As “teorias da aprendizagem”, por sua vez, apontam para outra direção. Grosso modo, trazem em seu bojo a ideia de que nascemos como uma tábula rasa, na qual vão sendo desenhados os traços de nossa conduta -- seja por condicionamento, por imitação ou por aprendizagem social. Para os postulantes dessa teoria, somos fruto do meio em que vivemos. Entretanto, os estudos recentes sobre resiliência (a capacidade de uma pessoa suportar adversidades e sair-se bem) colocam em xeque as teorias que exaltam a função do meio como modelador da conduta.

As clássicas “teorias do inconsciente”, que dominaram o campo da psicologia no final do século 19 e durante boa parte do século 20, especialmente a partir dos estudos de Freud, nos informavam que “as pessoas tinham impulsos inconscientes que as levavam a fazer o que faziam. Como estes impulsos eram inconscientes, a mente consciente podia apenas ficar perplexa a respeito do que a pessoa fazia e pensava”.2 Assim, muito da conduta humana é explicado por meio do inconsciente. A encantadora erudição de Freud e alguns de seus seguidores e a popularização da sua teoria levam, até os dias de hoje, as pessoas a aceitarem este “determinismo psíquico”. Para Freud, muito do comportamento humano era estabelecido a partir das experiências infantis nos primeiros anos de vida, em especial na relação da criança com a mãe, e, a partir de então, registrado no inconsciente, que atua como maestro da conduta para o restante da vida.

Quanto às “teorias de base espiritual”, em praticamente todas as culturas acredita-se que há elementos extranaturais que interferem na conduta humana. Deuses, anjos e demônios são narrados desde as mitologias mais remotas como tendo o poder de interferir em nossa forma de agir. A Bíblia e toda a teologia hebraico-cristã nos informam que há uma dimensão espiritual invisível, cujos seres pertencem a outra ordem de realidade e por isso têm o poder de se apossar de nosso corpo e mente (embora haja cristãos que não acreditam na existência dessa dimensão, tentando pulverizar as narrativas bíblicas sobre o tema em interpretações que remetem às outras teorias mencionadas). Por mais que alguns afirmem que tal ideia é retrógrada e anticientífica, no que tange às explicações da conduta humana, nenhuma teoria até aqui postulada pode ser afirmada como mais verossímil -- são apenas teorias.

A “teoria dos sistemas” entende que a conduta é resultado de vários sistemas que interagem em um determinado tempo e espaço e que, simultaneamente, essa conduta, ao se manifestar, gera mudanças nos vários sistemas, tornando a realidade cada vez mais complexa em um processo contínuo circular.

Voltemos ao questionamento inicial sobre como resguardar a criança dos desvios sexuais. Segundo algumas teorias, qualquer prevenção é impossível. Para outras, isso é perfeitamente viável em qualquer tipo de conduta -- inclusive a sexual.

A partir da experiência clínica, o que constatamos é que uma criança que cresce em uma família na qual os pais se amam e expressam isso abertamente aos filhos, o diálogo é aberto -- não somente sobre trivialidades, mas sobre valores -- e os valores de integridade, lealdade, companheirismo e amizade prevalecem entre os membros da família, tem menos riscos de desenvolver uma conduta disfuncional, seja de ordem sexual ou de outras ordens. Nos estudos sobre resiliência, o que se tem constatado é que, mesmo uma criança crescendo sob as mais adversas circunstâncias (em meio à promiscuidade dos pais ou à criminalidade, por exemplo), quando ela encontra alguém (um professor, um amigo, um religioso) que lhe dê referências de valores -- em especial valores espirituais --, ela ganha certa “imunidade” a desvios de conduta.

Assim, a ciência hoje passa a estudar a saúde (e não somente a doença) e descobre que a espiritualidade é um elemento fundamental na prevenção de condutas disfuncionais, seja de que instâncias forem.

Notas
1. Gregory Bateson, “Metadiálogos”. Lisboa: Gradiva Publicações, 1986. p. 71.
2. Jay Haley, “Aprendendo e ensinando terapia”. Porto Alegre: ARTMED, 1998. p. 85.

• Carlos “Catito” Grzybowski, 50 anos, casado, é psicólogo (CRP 08/1117) e terapeuta familiar. Mora em Curitiba, PR.
Fonte: Ultimato
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