Famílias no Afeganistão vestem filhas como meninos para evitar vergonha

Algumas mulheres afegãs acabam, para seu próprio azar, recebendo quase os mesmos direitos do que os homens de seu país: ainda na infância são vestidas como meninos para proteger o orgulho de suas famílias.
Segundo reportagem do "New York Times", a prática existe há gerações e é reproduzida até hoje, inclusive por mulheres escolarizadas e com assento no Parlamento.


Azita Rafaat é 1 das 68 mulheres entre os 249 parlamentares do Afeganistão.
Fluente em seis idiomas, ela estudava em Kabul quando seu pai a obrigou a ser a segunda mulher de um primo fazendeiro e analfabeto.
Rafaat queria ser médica e agora veste sua filha de seis anos Mehran Rafaat de homem antes que ela saia de casa para a escola.

A cultura local acredita que a mulher tem o poder de escolher o sexo da criança. Portanto, Rafaat é considerada culpada por privar sua família de criar um menino.
"Algumas coisas que acontecem no Afeganistão são realmente inimagináveis para os ocidentais", diz.
Apenas o homem tem direito a herança, pode acompanhar as meninas da família em público e possui acesso facilitado à educação. Não ter filhos homens é uma desgraça para uma família, até um forjado melhora a imagem no vilarejo.

RETORNO AO FEMININO
Há também a crença de que a prática aumenta as chances de nascer um bebê masculino. Rafaat, então, decidiu ter um bacha posh, que significa "vestido como menino" em dari.
A prática não é proibida pela lei nem pela religião. Em geral o retorno ao mundo feminino vem com a puberdade, mas depende da família.

Para algumas, a mudança é traumatizante. Shukria Siddiqui, 36, foi um menino por 20 anos. Ela andava com uma faca na cintura e não conhecia as restrições da vida feminina. Até que casou e passou a vestir a burca.
"Nós obedecemos nossas famílias", explicou.

Fonte: Folha de S.Paulo
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