Livre de mim mesmo

Tive um sonho diferente numa noite dessas.

Pessoas de mão dadas em forma de ciranda oravam na igreja que frequento a tantos anos. No sonho, acabada a oração, abraçávamos os irmãos efusivamente, como sempre fiz até o ano passado. Incontrolavelmente, fui até meu desafeto e o abracei, como se eu tivesse perdoado a ofensa que resolvi não perdoar, por julgar ser grave demais.

Despertei logo em seguida, e estranhamente, me senti diferente.

Eu, a seis meses atrás, já havia dito e repetido a mim mesmo que a pessoa estava perdoada, mas dentro de mim a matei: convivo na mesma comunidade, mas a ignorava, tornando-a invisível, fazendo questão de odiá-la cada segundo desde aquele fatídico dia em que me senti agredido e humilhado.

Nunca tentei esconder de Deus minha profunda raiva, e Ele, como só Ele poderia fazer, escolheu uma data nada especial, num sonho corriqueiro para me fazer experimentar algo que Ele faz tão bem.

Naquele dia, algo de amargo que pairava no céu da boca me abandonou. Por algum motivo, não estava tão mal-humorado como de costume. Acordei descansado como a muito não despertava, embora tenha dormido menos tempo que o normal.

A sensação de ter abraçado meu algoz fez com que algo em mim se purificasse.

Fiz uma câmara mortuária para guardar meu inimigo e passei a viver nela. Sou cristão e por mandamento de meu Mestre, sou obrigado a perdoar, embora naquele caso, cri que podia me dar ao luxo de não fazê-lo. Perdões imperdoáveis nos dão essa falsa convicção.

Naquela mesma semana, ao passar pela pessoa na comunidade, resolvi tocá-la no ombro, como em um cumprimento que sempre houve entre nós. Meu braço foi abraçado em um milésimo de segundo, e parecia que o mesmo sonho havia acontecido naquela vida. Uma ar de alívio nos cercou.

Não. Não sentamos e conversamos como grandes amigos, mas não havia mais motivos para odiar, as coisas velhas haviam passado, e tudo se fazia novo. Seguimos nossos caminhos em paz.

Jesus, muitas vezes, vem nos trazer libertação de nós mesmos, e só Ele sabe quando podemos ser libertos das cadeias que nos atamos pelas tragédias que a vida, muitas vezes, impõe.

Estranhamente, alguns estranhos males me abandonaram, e um ânimo, tão comum em outras épocas, voltou a me invadir. Ainda tenho um sermão da montanha inteiro para por em prática, mas por hora desfruto do poder que o perdão tem sobre minha vida.

Você devia experimentar. Te faria muito bem.
Zé Luís
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